domingo, 26 de abril de 2009

Dia da Baixada Fluminense - Resgate da Memória


Por Genesis Torres


Por iniciativa do PINBA-FEBEF-UERJ (Programa Integrado de Pesquisas e Cooperação Técnica na Baixada Fluminense), presidido pelo professor Paulo Mainhard e do IPAHB (Instituto de Pesquisas e Análises Históricas e de Ciências Sociais da Baixada Fluminense), presidido pelo Prof. Gênesis Torres e reunidos na UERJ (Caxias), promoveram-se com segmentos da comunidade cultural dois pré-encontros e um encontro final no dia 09 de dezembro de 2000. O objetivo era saber: “Quem é quem no cenário cultural da Baixada Fluminense”. Um encontro, inicialmente despretensioso em relação aos destinos da cultura nesta região, porém, com muita vontade de discutir as dificuldades e ao mesmo tempo manter um elo de ligação entre os diversos grupos culturais. O encontro foi marcado por um grande interesse, pois ali estavam presentes cerca de noventa instituições que de forma direta ou indireta vêm desenvolvendo projetos e iniciativas de caráter cultural na Baixada.
Durante todo o dia (das 08 às 17 horas) os grupos passaram discutindo seus problemas, apresentando-se mutuamente e trocando informações a respeito de seus trabalhos, além das apresentações de “quem era quem”.
Houve uma mesa de debates, com a presença de professores especialistas da UERJ na área da cultura e diversas autoridades municipais da Baixada e do Estado.
Ao final do encontro foi elaborado e aprovado por solicitação daquele Fórum um documento intitulado “Carta Cultural da Baixada Fluminense”. A Carta é um documento-síntese de todas as questões pertinentes às reivindicações levantadas nos debates ocorridos durante o evento. Neste documento os diversos segmentos culturais foram contemplados não só com suas reivindicações, mas também traçaram as aspirações e os caminhos para a valorização do patrimônio histórico e cultural de nosso povo.
Entre os pontos aprovados estava a proposta, encaminhada pelo professor Gelson Pereira Dalvi da UERJ-FEBEF, de se comemorar todos os anos o dia da Baixada Fluminense. Depois de analisar algumas datas o IPAHB (na pessoa do Prof. Gênesis Torres) defendeu a proposta do dia 30 de abril, data de grande significado histórico, pois marcou no ano de 1854 a construção da primeira estrada de ferro construída no Brasil, ligando o Porto da Guia de Pacopaíba na Praia de Mauá a Fragoso, numa extensão de 14.5 km. Historicamente, foi exatamente a ferrovia que decidiu os novos traçados de ocupação urbana desse imenso território e arremessou esta região definitivamente como área importante entre o litoral e o interior do Brasil, ainda no século XIX. A ferrovia virou ícone de progresso.
As comemorações que ocorreram a partir de 2001 sempre foram marcadas por muitos eventos em vários municípios como São João de Meriti, Duque de Caxias, Magé Nilópolis, Belford Roxo, Queimados e Nova Iguaçu. A comunidade cultural tem dado a sua colaboração, dedicando um dia de seu trabalho para o engrandecimento do evento como uma ação de graças por esta terra.
Destacamos também a nobre iniciativa dos Deputados Chico Alencar, Manuel Rosa, Alexandro Calazans, Artur Messias, Dica, Andréia Zito e José Távora, em ter transformado em Lei (o 30 de abril) pelo Projeto de nº 2233/2001 e aprovada em plenário no dia 9 de abril de 2002. Diz ainda a lei que o dia da Baixada Fluminense será comemorado obrigatoriamente em todas as escolas da rede estadual de ensino público e em todas as repartições públicas estaduais localizadas na região. Esperamos a mesma iniciativa das Câmaras Municipais dos Municípios que compõem esta região.
Sempre tivemos a esperança que as diversas instituições educacionais, sindicatos, grupos culturais e associações outras e, em principal, a Imprensa assumam uma postura e no dia 30 de abril de cada ano discutam, divulguem e reflitam com maior ênfase a Baixada Fluminense. Afinal esta é a nossa terra, rica de tradições e de história, além de ser o pedaço de chão que escolhemos para viver, criar família e educar nossos filhos.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Iconografia - Uma volta ao passado pela imagem.


Por Genesis Torres

A palavra iconografia pode ser traduzido literalmente como "escrita da imagem" e vem do grego eikon- (imagem) e graphia (escrita).
Até fins do século XVI, a iconografia referia-se especialmente ao significado simbólico de imagens inseridas num contexto religioso. Atualmente o termo refere-se ao estudo da história e do significado de qualquer grupo temático.
Erwin Panofsky foi um crítico e historiador da arte alemã, um dos principais representantes do chamado método iconológico, estudos acadêmicos em iconografia. Nasceu em Hannover (1892) e faleceu em Princeton, Nova Jersey (1968).
Iconografia segundo Panofsky "é um ramo da história da arte cujo objeto de estudo é o tema e significado das obras de arte em contraposição a sua forma" Panofsky também fazia distinção entre iconografia e iconologia. Em seus Estudos em Iconologia (1939) ele definiu a Iconografia como o estudo do tema ou assunto e iconologia o estudo do significado do objeto.
Iconografia é um vocábulo forte no seu significado e traz dentro de sí a amálgama que em muito contribuiu e vem até os dias atuais ajudando a construir a história dos povos na sua coletividade e das pessoas na sua individualidade. Estudando a pré-história vamos encontrar o significado da arte pictórica com motivos religiosos. Nos dicionários a expressão é descrita como conhecimento de imagens, ou formas representadas em obras de arte por gravuras e fotografias.
Segundo a Enciclopédia Itaú Cultural, “também nomeia uma disciplina da História da Arte dedicada a identificar, descrever, classificar e interpretar a temática das artes figurativas”.
Feitas estas considerações de ordem conceitual, quero voltar-me para a história da Baixada Fluminense. Permanentemente somos solicitados a escrever sobre determinada realidade social, econômica, política, cultural e religiosa desta região. Encontramos grandes dificuldades na obtenção de fontes documentais escritas e o que dirá das fontes iconográficas. Mesmo assim, produzimos as pesquisas e esbarramos nas exigências em fazer ilustrações, como imagens de tribos indígenas, fazendas, personagens da história ou das mais variadas realidades do universo cultural e de outras atividades humanas.
As poucas imagens fotográficas que conseguimos, frutos na grande maioria das vezes de doações pertencentes aos álbuns de família, provenientes de Instituições Religiosas e Culturais, onde confiam que tais fotos e objetos serão devidamente preservados e cuidadosamente tratados e que sirvam para descrever a memória da cidade e de seus cidadãos.
No entanto há cidadãos que desconhecendo o valor de uma fotografia e todo o conteúdo nela contida, tem sob sua guarda importantes acervos, cometem erros manuseando permanentemente essas fotos e expondo ao contato com umidade, poeira e fungos produzidos pela má conservação na sua guarda. Vai assim a cidade perdendo sua memória iconográfica e deixando de oferecer para a posteridade importantes registros.
Outra questão relevante é a falta de conhecimento e visão histórica da cidade pelos seus governantes, tanto das Instituições publicas como privadas. Procuramos por exemplo, na Câmara Municipal da Cidade sobre o acervo com imagens, documentos e objetos de momentos importantes na vida do Poder Legislativo como: Posse de uma legislatura, votações de leis, constituinte municipal, fotos dos edis, objetos, símbolos e etc. Pelas mesmas circunstâncias vamos encontrar o Poder Executivo no tocante aos seus eventos. Neste aspecto os registros quando existem viram acervos particulares, quando deveria ser de domínio público e colocado em arquivos devidamente catalogados.
O exemplo mais característico é não saber onde se encontra o desenho original com a respectiva Lei que deu origem aos símbolos da cidade: o Brasão e a Bandeira, da cidade de São João de Meriti.
Faço aqui um desafio, não há na Baixada Fluminense um só município que tem institucionalmente sob sua guarda, de forma catalogada, digitalizada e disponível ao público imagens da cidade desde sua fundação ou emancipação. Não há também um só município que possua um arquivo público, com funções específicas e aberto à pesquisa acadêmica. Não há na estrutura funcional de cada Prefeitura a função do Administrador do Arquivo Público com funcionários de carreira e devidamente qualificados, quando existem são para cumprir exigências legais na guarda de documentos públicos por determinados períodos. O endereço destes acervos é sempre o porão do prédio, o terraço, uma sala sem ventilação e com grandes amarrados de documentos esperando o tempo passar para serem incinerados.
A falta deste acervo não permite ao pesquisador desenvolver seus trabalhos, fazer conclusões, divulgar personagens e enriquecer relatórios. O homem da pré-história não era provido de uma máquina digital mas procurava gravar nas paredes das cavernas e nas texturas das pedras seus feitos e suas caças. Como não eram sociedades letradas, criavam símbolos e imagens que pudessem expressar seus feitos e suas idéias.
As sociedades que compõem a Baixada Fluminense esqueceram do seu tempo e da memória de seu povo, correm o grande risco de não ter no futuro importantes referenciais sobre seu tempo.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Meriti, uma cidade desmemoriada

Por Gênesis Torres


Triste pedaço de nação, valha-me oh Deus! “Uma nação se constrói com homens e livros” afirmava Monteiro Lobato. Não há nos livros valores relativos, todos são absolutos. Eles representam a alma e os sentimentos de um povo, contidos e expressados nos indivíduos que os escreve. Os livros são catarses individuais que uma vez expostos tornam-se coletivos e não pertencem mais aos seus autores, sua idéias e seus pensamentos pertencem agora a todo um povo. Historicamente saímos da barbárie a aproximadamente sete mil anos quando descobrimos a escrita e passamos a deixar para as futuras gerações nossos pensamentos, nossas idéias, nosso modo de ver o mundo e as coisas que nos cercam.
Em a "Tragédia [o Hamlet, de Shakespeare] sem catarse que, ao lento cair do pano, só nos deixa, como objeto de meditação e fruto amargo, uma interminável fila de interrogações..." (citado por Augusto Meyer, A Chave e a Máscara).
Na cidadela de São João de Meriti o descortino da desmemoriada faz seus algozes, tortura-os e os pisoteia sobre seus corpos já combalidos pelos anos de luta. Aqui não importa o que os homens pensam e constrói, estimam-se mais os valores do compadrio e da fidelidade ao dando que se recebe.
Temos grandes interrogações a respeito de Instituições Culturais em nossa cidade. Citemos alguns exemplos daquelas que vem lutando para sobreviver: Banda de Música comandada pelo Maestro Francisco, abnegado músico e que aproximadamente quarenta anos permanece na cidade lutando para sobreviver. A cada período fica acampado num determinado lugar. Hoje encontra-se no Complexo Cultural, até quando não sabemos. Outra importante instituição é a Academia de Letras e Artes, fundada em 1977 e até hoje não teve um espaço para fixar-se em definitivo, são homens e mulheres, poetas, escritores e artistas em todas as áreas que procuram produzir e divulgar seus saberes, também nunca receberam o apoio institucional.
Mais recentemente procurava-se fortalecer os laços entre o passado e o presente num grande projeto para salvar de forma metódica a memória urbana de seu povo e foi destruída na sua caminhada. O que dirão uma dezena de outras nas mesmas situações.
Investir na organização dos agentes culturais, comprometidos realmente com as causas culturais, nos seus diversos afazeres, é a forma mais econômica de atuar do Poder Público, cultura institucional, é cara, ineficiente e o pior, são os seus comprometimentos político partidário.
Difícil construir instituições culturais e educacionais fortes, capazes de superar as diversidades e as dificuldades que o chamado “Poder Público” não consegue arremessar. Aqui não floresce uma só planta, não há jardineiros dispostos a cuidar de suas raízes, o terrenos é fértil, mas as pragas daninhas se espalham por todo lado como nos tempos dos laranjais. Se não sobrevivo se as ervas corroeram, só resta-me chorar a perda de um grande trabalho, afinal o “povo tem o que merece”. Não! o povo não merece, o povo é enganado.
Deixemos o tempo passar, afinal a vida é uma grande roda, hoje estamos de cabeça para baixo. O tempo é o grande senhor, a história saberá fazer a centrifugação e nos trarão a tona as nossas interrogações e quais serão as verdadeiras intenções, clareando as razões que levaram a varredura nos projetos sobre a memória da cidade.