quinta-feira, 9 de abril de 2009

Meriti, uma cidade desmemoriada

Por Gênesis Torres


Triste pedaço de nação, valha-me oh Deus! “Uma nação se constrói com homens e livros” afirmava Monteiro Lobato. Não há nos livros valores relativos, todos são absolutos. Eles representam a alma e os sentimentos de um povo, contidos e expressados nos indivíduos que os escreve. Os livros são catarses individuais que uma vez expostos tornam-se coletivos e não pertencem mais aos seus autores, sua idéias e seus pensamentos pertencem agora a todo um povo. Historicamente saímos da barbárie a aproximadamente sete mil anos quando descobrimos a escrita e passamos a deixar para as futuras gerações nossos pensamentos, nossas idéias, nosso modo de ver o mundo e as coisas que nos cercam.
Em a "Tragédia [o Hamlet, de Shakespeare] sem catarse que, ao lento cair do pano, só nos deixa, como objeto de meditação e fruto amargo, uma interminável fila de interrogações..." (citado por Augusto Meyer, A Chave e a Máscara).
Na cidadela de São João de Meriti o descortino da desmemoriada faz seus algozes, tortura-os e os pisoteia sobre seus corpos já combalidos pelos anos de luta. Aqui não importa o que os homens pensam e constrói, estimam-se mais os valores do compadrio e da fidelidade ao dando que se recebe.
Temos grandes interrogações a respeito de Instituições Culturais em nossa cidade. Citemos alguns exemplos daquelas que vem lutando para sobreviver: Banda de Música comandada pelo Maestro Francisco, abnegado músico e que aproximadamente quarenta anos permanece na cidade lutando para sobreviver. A cada período fica acampado num determinado lugar. Hoje encontra-se no Complexo Cultural, até quando não sabemos. Outra importante instituição é a Academia de Letras e Artes, fundada em 1977 e até hoje não teve um espaço para fixar-se em definitivo, são homens e mulheres, poetas, escritores e artistas em todas as áreas que procuram produzir e divulgar seus saberes, também nunca receberam o apoio institucional.
Mais recentemente procurava-se fortalecer os laços entre o passado e o presente num grande projeto para salvar de forma metódica a memória urbana de seu povo e foi destruída na sua caminhada. O que dirão uma dezena de outras nas mesmas situações.
Investir na organização dos agentes culturais, comprometidos realmente com as causas culturais, nos seus diversos afazeres, é a forma mais econômica de atuar do Poder Público, cultura institucional, é cara, ineficiente e o pior, são os seus comprometimentos político partidário.
Difícil construir instituições culturais e educacionais fortes, capazes de superar as diversidades e as dificuldades que o chamado “Poder Público” não consegue arremessar. Aqui não floresce uma só planta, não há jardineiros dispostos a cuidar de suas raízes, o terrenos é fértil, mas as pragas daninhas se espalham por todo lado como nos tempos dos laranjais. Se não sobrevivo se as ervas corroeram, só resta-me chorar a perda de um grande trabalho, afinal o “povo tem o que merece”. Não! o povo não merece, o povo é enganado.
Deixemos o tempo passar, afinal a vida é uma grande roda, hoje estamos de cabeça para baixo. O tempo é o grande senhor, a história saberá fazer a centrifugação e nos trarão a tona as nossas interrogações e quais serão as verdadeiras intenções, clareando as razões que levaram a varredura nos projetos sobre a memória da cidade.

Um comentário:

  1. Professor, até bem pouco tempo eu sequer sabia que existia uma Academia de Letras na nossa cidade. No meu ponto de vista falta divulgação.

    A internet está ai professor, pronta para as pessoas ousarem.

    Vale lembrar que o maior buscador da internet, o "Google", começou por iniciativa de estudantes num trabalho "boca a boca".

    Use a internet professor. Mostre os textos, trabalhos dos integrantes da academia. O reconhecimento vem, e com ele tudo mais.

    Abraços e parabéns pelo seu texto.

    ResponderExcluir